Coimbra, Património Mundial
Em 2013 a Unesco reconhece o valor excecional da Universidade de Coimbra – Alta e Sofia agraciando-a com o selo de Património Mundial da Humanidade.
A área do bem classificado corresponde a quatro grandes momentos da história de criação, desenvolvimento, restruturação e consolidação de uma das mais antigas universidades europeias e a única no universo português até 1911, com exceção do período entre 1559 e 1759 em que coexistiu com a Universidade de Évora:
Fundação da Nacionalidade
Em 1064, Coimbra torna-se a cidade mais importante da linha defensiva do Mondego governada, à data, por D. Sesnando. Em 1111, o Conde D. Henrique e D. Teresa concedem carta de Foral à cidade, fazendo desta sua residência. Em 1131, D. Afonso Henriques transfere a Capital do Condado Portucalense de Guimarães para Coimbra, o que veio a revelar-se de extrema importância para a independência e fundação do Reino de Portugal, em 1143.
A importância e relevo que a cidade teve na reconquista cristã, na formação de Portugal e na identidade de um povo, levou a que, em Coimbra, se tivessem construído alguns dos mais belos e importantes monumentos nacionais, nomeadamente o Mosteiro de Santa Cruz, onde repousam os restos mortais dos fundadores do Reino, o Mosteiro de Santa Clara-a-Velha, refundado pela padroeira da cidade, a Rainha Santa Isabel, esposa do fundador da Universidade; o atual Convento São Francisco – Coimbra Cultura e Congressos – Património Municipal.
A afirmação do reino de Portugal, tendo Coimbra como capital, levou a que a expansão e conquista do território nacional ficasse intimamente ligada a cidades como Tomar e Alcobaça e posteriormente com a vila da Batalha.
A instalação definitiva da Universidade, em Coimbra, no antigo Paço Real, vem aumentar a responsabilidade da cidade, na formação intelectual da sociedade portuguesa, iniciada no século XII, no então Mosteiro de Santa Cruz.
Viver o Património em Coimbra
O centro histórico de Coimbra é composto pela zona Alta e Baixa da cidade, sendo esta conhecida popularmente por “Baixinha”. Em termos cronológicos a cidade teve origem na Alta, mas ao longo do tempo, foi crescendo e descendo a colina até à zona ribeirinha. Na parte Alta da cidade vivia sobretudo a nobreza, o clero e, mais tarde, os estudantes. Na parte Baixa predominava o comércio e a indústria onde vivia a maior parte da população.
Atualmente, tanto a Alta como a Baixa são locais privilegiados, onde a cidade revela o seu lado mais genuíno com as suas marcas do passado ainda bem presentes.
Num passeio entre a Alta e a Baixa o caminho faz-se por ruas estreitas e empedradas, escadarias íngremes que ladeiam edifícios seculares, recantos inusitados e imagens dignas de um postal ilustrado. Merece um olhar atento para se surpreender com a beleza que espreita a cada esquina, que se abre nos largos e nas praças e para sentir o pulso à cidade.
Coimbra Muralhada
Coimbra foi uma cidade romana chamada Æminium que cresceu devido ao declínio da vizinha cidade de Conímbriga. Durante o século V DC, Conímbriga, localizada a cerca de 15 quilómetros de Æminium, passou a ser constantemente saqueada pelos povos germanos. Por este motivo, muitos dos seus habitantes mudaram-se para Æminium.
Infelizmente, não existem muitos vestígios das estruturas defensivas da Coimbra romana sabendo-se, todavia que foi levantada uma muralha. Mais tarde, durante o período em que a cidade esteve sob o domínio muçulmano, a muralha chegou a atingir quase 2 quilómetros. No século XVI, dispunha de 5 portas e de um considerável número de torres envolvendo a área que, grosso modo, corresponde hoje ao centro histórico.
Coimbra assumiu um papel importante durante a Reconquista Cristã. A conquista progressiva de território permitiu a criação de vários Reinos, entre eles, o Reino de Portugal. Nesse contexto, quando D. Afonso Henriques – o primeiro rei português – se instala na cidade de Coimbra esta transforma-se na capital do Condado Portucalense. Durante este período o castelo foi reforçado bem como o núcleo central do sistema defensivo.
Em 2003, foi criado o Núcleo da Cidade Muralhada, um centro de interpretação do castelo e das muralhas de Coimbra que permite compreender a história e a evolução da cidade e perspetivar como eram as fortificações da cidade na Idade Média. Ainda assim, atualmente existem alguns vestígios deste sistema defensivo que protegia a cidade.
O Fado e as tradições académicas
Coimbra é uma cidade marcada pelas tradições académicas que lhe conferem vivências muito próprias: a praxe; o traje; as festas académicas, em particular a Festa da Latas e a Queima das Fitas. O Fado de Coimbra é presença obrigatória e ocupa lugar de destaque nestes momentos.
O Fado de Coimbra teve sempre uma ligação muito íntima com a sua cidade e a sua Academia. Desde o séc. XVI que o cantar de estudantes, nas ruas de Coimbra, é factualmente conhecido, onde o erudito e o popular se reviam e misturavam com frequência. Foi na segunda metade de séc. XIX que o fado académico e as serenatas estudantis começaram a ganhar contornos muito próprios, dando origem ao denominado Fado de Coimbra. Contrariamente ao Fado de Lisboa, das tabernas e das casas de fado, o Fado de Coimbra é, na sua essência, um fado de serenata, um fado de rua, com letras e músicas, não só de raiz popular, mas também de origem erudita, tendo sido musicados poemas dos mais ilustres poetas que pela Universidade de Coimbra passaram. É o género musical mais acarinhado e mais divulgado pela comunidade académica e que os estudantes sempre interpretaram e criaram com um sentimento e uma riqueza inigualável. Ao longo dos tempos, este género musical foi sendo remodelado, dando origem ao Canto e à Canção de Coimbra que a cidade, a sua Universidade e as suas gentes vão orgulhosamente recriando, respeitando a sua essência e a sua génese.
Durante as Serenatas Monumentais os estudantes têm de estar de capa traçada, manter o silêncio e não aplaudir. Nas Serenatas de Rua (serenatas feitas debaixo da janela daquela a quem se pretende dedicar a serenata, como demonstração de amor) a capa também se mantém traçada. A rapariga agradece acendendo e apagando a luz três vezes.
Coimbra para os pequenitos
A cidade de Coimbra é um ótimo destino para uns dias em família, dispondo de várias atrações que encantam miúdos e graúdos.
Se o objetivo for explorar as maravilhas da ciência e questionar o mundo que nos rodeia, o Museu da Ciência da Universidade de Coimbra e o Exploratório – Centro de Ciência Viva, são locais de visita obrigatória. Quem tiver um especial fascínio pela história não deverá perder a visita ao Museu Nacional Machado de Castro e à Torre de Almedina, marcos fundamentais da história da cidade. Para os que pretendem uma experiência única de interação com o património não deverão perder a visita ao Portugal dos Pequenitos, o parque temático mais antigo do mundo. Por último, se o objetivo é simplesmente a diversão e usufruto de espaços ao ar livre, então o Parque Verde do Mondego é a opção ideal.
Jardins históricos
No passado, Coimbra encontrava-se envolvida por um conjunto de quintas e cercas conventuais, essencialmente de caráter agrícola que se assumiam também como espaços privilegiados de lazer. Entre eles evidenciava-se o Mosteiro de Santa Cruz, cujo vasto território se estendia pelo Vale da Ribela, contornando a colina da Alta até Celas. O Jardim do Claustro da Manga é herdeiro deste complexo, subsistindo como um curioso exemplar dos inúmeros claustros conventuais que pontuavam a cidade.
No século XVIII, a Quinta de Santa Cruz viria a ser alvo de grandes transformações, procedendo-se então ao arranjo da mata do mosteiro que viria a dar origem ao Parque de Santa Cruz, mais tarde popularizado com o nome de Jardim da Sereia. Ainda nesse século, a cidade vê surgir também o Jardim Botânico, pensado como complemento ao estudo das ciências naturais na Universidade. A sua conceção enquadra-se no processo de modernização e secularização do ensino superior, introduzido por Marquês de Pombal.
Após a extinção das ordens religiosas, em 1834, as cercas conventuais deram lugar a novos espaços urbanos e a jardins, de que são exemplo a Avenida Sá da Bandeira, o Parque Dr. Manuel Braga, entre outros. Este período testemunhou, assim, o aparecimento dos primeiros espaços verdes públicos.
O século XX trouxe um novo crescimento à cidade, acompanhado da conceção de novos espaços verdes que passam a incorporar uma vertente multifuncional. Exemplo disso é o Parque Verde do Mondego, implantado ao longo de ambas as margens do rio.
Escritores
Coimbra é, desde a fundação e estabelecimento da sua Universidade, um ponto de passagem privilegiado das elites letradas do País. Foi, aliás, durante séculos, a universidade com mais prestígio no Império Português, tendo sido responsável pela formação de várias gerações de escritores, médicos, estadistas, entre muitos intelectuais do mundo lusófono.
Para além do ensino propriamente dito, aqui tomava-se contacto (muitas vezes pela primeira vez) com os movimentos culturais da época que chegavam do exterior. Nos cafés da cidade e residências estudantis, dispersas em repúblicas e quartos alugados na Alta de Coimbra, reuniam-se em tertúlias, discutindo questões que contribuíram para o enriquecimento do panorama literário nacional. As suas vivências e lugares do quotidiano foram também transpostos para as obras e personagens, servindo de inspiração e cenário às tramas literárias.
Destacam-se, a este nível, as casas onde viveram, nos seus tempos de estudante Antero de Quental, Eça de Queirós, António Nobre, João José Cochofel, José Régio, entre outros.
Escritores, como Miguel Torga, Adelino Veiga e Manuel da Silva Gaio, permaneceram na cidade e aqui se estabeleceram; outros ainda são homenageados em monumentos dispostos em jardins, avenidas e praças da cidade celebrando a sua ligação a Coimbra.
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